Em vários momentos na história a palavra esteve ligada à divindade e a poesia serviu de veículo para essa aproximação com o sagrado. Desde a epopeia de Gilgamesh ao Popol Vuh maia, passando pela Divina Comédia de Dante, o Paraíso Perdido de Milton ou a poesia xamânica da beat generation, a sacralidade é evocada de alguma forma. Essas relações e contradições serão o fio condutor da terceira edição do Festival Internacional de Poesia do Recife – FIP, que acontece entre os próximos dias 22 e 25, e é uma realização Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura e Fundarpe, parceria com a Prefeitura do Recife.
São cerca de 50 convidados em rodas de conversa, recitais, performances e cursos, que trarão ao Recife nomes do Brasil e do exterior. “O festival é uma justa reverência à tradição poética do Recife e se consolida nesta edição com uma programação consistente, colocando a cidade na rota dos grandes festivais de poesia do mundo”, afirma o secretário de cultura Marcelo Canuto. Todas as noites do festival são abertas com rodas de leitura, das quais participam nomes como Alice Ruiz (PR), Allan Jonnes (SE), Leandro Durazzo (SP) e um dos vencedores do Prêmio Pernambuco de Literatura, Joseilson Ferreira.Como vem acontecendo desde a primeira edição, o festival tem uma “antiabertura”, que acontece um dia antes da abertura oficial. O poeta e performer Conrado Falbo deitará cartas de um “tarô poético” a quem chegar a sua mesinha, instalada ao lado do chafariz da Praça Maciel Pinheiro a partir das 14h do dia 21.
Na noite de abertura (22), uma conversa sobre tradução de poesia: Artur de Ataíde, conversa com o Everardo Norões e o poeta Jacques Demarcq, um dos principais tradutores de e. e. cummings para o francês. Na sequência, o show “Uma alucinação na ponta de seus olhos”, produzido exclusivamente para o FIP pelo projeto P.I.Va – Poesia Incendiária Valvulada, com participação do poeta josé juva, que trará, num clima rock and roll, a obra do poeta-xamã Roberto Piva (1937-2010). Para quem quiser esticar, “Poesia até umas horas”, com os músicos e poetas Allan Sales e Clécio Rimas, que puxam um microfone aberto no Espaço Cultural Teatro Mamulengo, numa edição especial do Quintas com Música e Poesia.
O projeto “A gente da palavra” acontece na comunidade do Pilar e abre a programação da sexta-feira. A ação consiste em recitar de porta em porta, levando poesia para o cotidiano das pessoas. Os poetas trabalham uniformizados, como verdadeiros agentes de poesia. A programação da Torre Malakoff começa às 16h30 e neste dia Bruno Piffardini (SP) conversa com Cláudio Willer (SP) e josé juva (PE) sobre poesia, xamanismo e transe. À noite é a vez do poeta Delmo Montenegro – também vencedor do Prêmio Pernambuco - conversar sobre o sagrado na poesia ameríndia com o poeta e pesquisador Sérgio Medeiros, estudioso do Popol Vuh maia e o poeta Douglas Diegues, co-autor de um dos trabalhos mais respeitados sobre poesia indígena no Brasil. A noite se encerra com uma jam poética entre Luna Vitrolira, Thiago Martins, Greg Marinho e Rodrigo Félix, “Não os queríamos sagrados”, baseada na obra da poeta da Geração 65, Terêza Tenório.
O sábado (24) se inicia perfeito para os amantes da língua francesa, com conversa entre Françoise Lalot, coordenadora da Semaine de la Poésie de Clermont-Ferrand, e o poeta Joël Bastard, sobre a poesia contemporânea francesa e os livros de artista. O jornalista Hugo Viana conversa à noite com dois jovens poetas que renovam a relação com o sagrado em sua obra: a portuguesa Matilde Campilho, considerada a nova musa da poesia lusitana, e o paulista Leandro Durazzo, estudioso da obra de Jorge de Lima. O grupo Virgulados (Belo Jardim) fecha a noite com o show Universons, que conta com a participação dos poetas Pierre Tenório e Ícaro Tenório.
A tarde do domingo começa com a final da Peleja Poética, concurso de recitação que tem classificatórias nos mercados da Boa Vista e Madalena na sexta e no sábado. Na sequência, Conrado Falbo conversa com Ângelo Monteiro e Cida Pedrosa sobre as relações entre poesia, o sagrado e o erotismo. O terceiro FIP se encerra com uma sambada entre os dois maracatus mais antigos em atividade no estado, o Cambindinha de Araçoiaba (que completa cem anos) e o Cambinda Brasileira de Nazaré da Mata, com noventa e seis anos. A sambada será marcada pelo encontro de gerações: a lenda Mestre Dedinha e o jovem Mestre Anderson. A programação completa está no site www.festivalinternacionaldepoesia.com.
CURSOS E OFICINAS – Devido à grande procura nos anos anteriores, nesta edição foi ampliada a oferta de cursos e oficinas, que também começam um dia antes da abertura oficial. Dias 21 e 22 a poeta paranaense Alice Ruiz oferece oficina de haicais. Dia 23 a professora e tradutora de Dirce Waltrick do Amarante, que traduziu recentemente Gertrude Stein, oferece um curso sobre limerique, uma das grandes formas poéticas nonsense do século XIX, usada por Sousândrade em “O inferno de Wall Street”. No dia 24 os haicais produzidos na oficina de Alice Ruiz se transformam em livros de papelão na oficina de livros artesanais oferecida pelo poeta carioca e editor da Yiyi Jambo Cartonera, Douglas Diegues. No domingo (25) a professora Bianca Campello oferece um curso que esmiuçará a magia e o ocultismo na obra de Fernando Pessoa. Todos os cursos são gratuitos, mas é preciso fazer inscrições pelo email literatura.secultpe@gmail.com ou pelo telefone (81) 3184-3166. Vagas limitadas.
COMPETIÇÃO POÉTICA - Uma novidade deste ano é a Peleja Poética, em que poetas concorrem em um poetry slam, ou competição de recitação. Em sistema de mata-mata, os poetas se enfrentam nos mercados públicos, reduto tradicional da poesia na cidade, numa parceria com o Nós Pós/Mostra PE. A final acontece no domingo na Torre Malakoff, quando se escolherão as duas melhores performances. O primeiro e segundo lugares levam R$ 2 mil e R$ 1 mil, respectivamente. As inscrições podem ser feitas no Espaço Pasárgada ou pela internet. Mais informações na Coordenadoria de Literatura, pelo fone (81) 3184-3166 ou pelo email literatura.secultpe@gmail.com. A ficha de inscrição pode ser encontrada no site da Fundarpe (www.fundarpe.pe.gov.br).
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