O ano é 2020 D.C. - ou seja, daqui a nove anos - e
uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:
- Vovô, por que o mundo está acabando?
A calma da pergunta revela a inocência da alma
infante. E no mesmo tom vem a resposta:
- Porque não existem mais PROFESSORES,
meu anjo.
- Professores? Mas o que é isso? O que fazia um
professor?
O velho responde, então, que professores eram
homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira
muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as
pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na
história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a
pensar.
- Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?
- Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas
alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados
pelos alunos.
- E como foi que eles desapareceram, vovô?
- Ah, foi tudo parte de um plano secreto e
genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não
se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram
muito.Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para
mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa,
os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos
mais interessados conseguiam aprender alguma coisa.
Depois, muitas famílias estimularam a falta de
respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus
filhos. Estes foram ensinados a dizer "eu estou pagando e você tem
que me ensinar", ou "para que estudar se meu pai não estudou e
ganha muito mais do que você" ou ainda "meu pai me dá mais de
mesada do que você ganha". Isso quando não iam os próprios pais gritar com
os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas
particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do
ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores,
dizendo que eles não estavam conseguindo "gerenciar a relação com o
aluno". Os professores eram vítimas da violência - física, verbal e
moral - que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de
todo mundo.
Além disso, qualquer proposta de ensino
sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho
no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. "Ah, eu quero saber se
isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular",
diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo o ensino
foi orientado para os alunos passarem no vestibular. Lá se foi toda a
aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou
decoração de fórmulas. Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas
ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para
estudar a sério.
Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus
salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar
à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum
tonto dizer que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram
descrentes da educação, pois viam que as pessoas "bem sucedidas" eram
políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol,
artistas de novelas da televisão - enfim, pessoas sem nenhuma formação ou
contribuição real para a sociedade.
júlia Josinete